• sábado, 22 de dezembro de 2012

    Chronos | Capítulo 2 - Reescrever


    II 
    Reescrever
                Era um lugar repleto de uma vegetação estranha, com muitas árvores, plantas e flores bizarras por todos os lados. Levantei, tentando entender o que havia acontecido. Não sabia como tinha chegado ali. As últimas coisas de que me recordava era de estar no túnel e de repente aquele relógio estranho começou a pulsar e tudo se distorcer.
                O procurei nos meus bolsos, na mochila, mas não o encontrei. Talvez ele tenha caído na floresta, no meio das plantas que cobriam o chão. Procurá-lo seria complicado, pois as árvores eram altas e tinham uma folhagem densa, que não permitia que a luz entrasse, além de haver muitas plantas e flores. Não havia sinal de trilhas, casas ou estradas ao redor. Era como se nenhum humano jamais houvesse pisado ali. Algumas árvores haviam sido derrubadas, não por máquinas, mas aparentemente por algum animal grande e com garras afiadas.
                Aquele lugar estava me dando arrepios. Comecei a procurar por aquele relógio, que não devia ter caído muito longe, mas senti a terra tremer. A princípio pensei que fosse minha imaginação, mas os tremores forma ficando mais fortes a cada segundo, como se estivesse se aproximando de mim. De repente algumas árvores começaram a cair e tive a certeza de que algo vinha na minha direção. Cada vez mais rápido tentei encontrar o relógio, porém, num instante, vi um dinossauro gigantesco vindo correndo em minha direção. Ele tinha mais de 2 metros, dois chifres enormes sobre sua cabeça igualmente grande, contrastando com seu focinho pequeno. Parecia ser um Torosaurus, um dinossauro do período cretáceo, e ele parecia fugir de alguma coisa.
                Corri o quanto pude e me escondi atrás de uma árvore, mas ele havia ido embora. Estava aliviado, mas ao mesmo tempo me bateu uma angústia. Eu estava sonhando? Tudo aquilo era real? Os arranhões feitos pelos galhos estavam realmente doendo. Podia sentir o cheiro daquele lugar, um odor desagradável que impregnava o ar, e a sensação do suor escorrendo pelo meu rosto. Tive certeza de que não podia estar sonhando. Todas as pesquisas do meu pai eram verdadeiras. E se eu estava realmente no período Cretáceo, significa que aquele relógio na verdade era o Chronos. Ele era real e agora mais do que nunca teria que encontrá-lo, caso contrário ficaria preso ali. Talvez esse fosse o sonho de muitos arqueólogos, mas não passava pela minha cabeça ficar naquele lugar pra sempre e acabar por ser devorado por um lagarto gigante. Agora mais do que nunca tinha que encontrá-lo. Olhei para o local onde eu estava caído quando acordei. Por sorte o dinossauro havia revirado as plantas, deixando uma trilha por todo o seu trajeto. Corri até lá, revirei as folhas e galhos retorcidos no chão, até com um brilho prateado vi o Chronos em meio às folhagens amarronzadas. O peguei e conferi se ainda estava inteiro, mas não sabia como ativá-lo para sair dali. De repente ouço um grunhido e a terra tremer novamente. Lentamente ergui minha cabeça e na minha frente surgiu um Tyranossaurus.
                Tentei ficar imóvel, segurar minha respiração, que devia estar ofegante, mas parecia que ele já havia percebido que eu estava ali e mostrou seus afiados dentes ainda sujos da sua última refeição. Sem alternativa corri o mais rápido que pude, procurando desesperadamente por uma rota de fuga que me livrasse dele. Tropecei em um barranco e cai, rolando por entre as folhas e galhos. Atordoado, levantei e me escondi debaixo das raízes de uma grande árvore. Tentando manter a calma, peguei o Chronos e procurei uma forma dele me levar para casa. Percebi que havia um botão maior que os outros dois, onde uma corrente ficava presa. Devia tê-lo pressionado sem querer quando o peguei. Seria essa a chave para ativá-lo? Mas e se isso não me levasse de volta?
                Antes que eu pudesse fazer qualquer coisa, o Tyranossaurus me encontrou. Corri desesperado, buscando um lugar seguro para apertar o botão. Se desse errado pelo menos não seria devorado. Um penhasco surgiu logo à frente. Eu estava encurralado e não me restava outra escolha senão pular e arriscar a sorte apertando o botão. Sem pensar muito me joguei no penhasco, fechei os olhos e apertei o botão. Senti uma pulsação no relógio e uma pressão enorme sobre o meu corpo, que me sufocava e de repente não senti mais nada. Quando acordei não estava mais naquela floresta, e também não estava no escritório.
                Olhei ao redor e reconheci o parque de Silkred. Eu estava perto de uma fonte e percebi que o penhasco havia se tornado aquele parque após os milhões de anos que se passaram. Ainda em choque voltei para a casa dos meus pais, que não era muito longe dali. Tinha que dar uma última olhada naquele lugar. Parei em frente à porta. Fiquei ali por alguns minutos, pensando. Se aquilo não tivesse acontecido, será que hoje seríamos uma família feliz? Teríamos almoços de domingo com os amigos, me pai e eu sairíamos para fazer alguma exploração juntos? Não pude fazer nada para salvá-los. Diante da minha impotência voltei para Lorent deixando para trás tudo o que me afligia e lembranças de um futuro que nunca existiu.
                Já amanhecia quando eu entrei no meu apartamento. Estava tão cansado que pela primeira vez tive vontade de dormir. Joguei a mochila num canto qualquer e caí na cama. Dormi feito uma pedra e nem sequer lembrei o havia sonhado. Quando acordei assustado já havia perdido a primeira aula, e pela primeira vez desde que entrei para a faculdade resolvi ir de carro, pois senão chegaria ainda mais tarde. Durante o almoço, Sally veio falar comigo. Parecia estar preocupada com o meu atraso já que eu sempre fui pontual.
                -Posso me sentar com você? – Disse Sally meio sem jeito
                -Claro, fique a vontade. – Respondi voltando a me concentrar no cardápio em minhas mãos
                Ela se sentou bem na minha frente. Eu ainda não tinha pedido e fiquei sem saber se olhava para ela ou para o cardápio.
                -E então, como foi a viagem? Conseguiu resolver tudo o que queria? – Disse ela puxando assunto.
                -Consegui – Respondi ainda fingindo escolher meu prato.
                -Pensei que só fosse voltar daqui a dois dias.
                -É, mas eu consegui resolver tudo ontem mesmo.
                -Que bom não é? Mas, porque não me ligou avisando que voltaria?
                -Cheguei muito tarde. Não quis incomodá-la.
                Depois dessa última fala um silêncio pairou entre nós até o fim do almoço. Não falamos nem para fazer os pedidos ou pedir a conta. Não entendi o que estava acontecendo entre nós. Antes passávamos horas conversando, mas agora parecemos dois estranhos e o que eu sinto por ela está ficando cada vez maior. Talvez eu não quisesse preocupá-la com as coisas que me deixavam triste, mas ela me conhecia melhor do que ninguém, e sabia que no fundo havia algo de errado. Só que ela era gentil demais para me pressionar a dizer o que era.
                Passei a noite inteira terminando uma pesquisa sobre algumas relíquias egípcias e peguei no sono antes de terminá-la. Pela primeira vez em cinco anos tive um sonho e não um pesadelo. No sonho eu acordava na casa dos meus pais. Minha mãe, Sarah Riggs, me chamava para tomar café. Desci as escadas e na ponta da mesa estava o meu pai, lendo seu jornal como sempre fazia quando estava em casa. Ele dobrou o jornal e o pôs em cima da mesa. Ao lado dele o meu avô tomava uma xícara cheia de chá, resmungando por não poder tomar café. Na pequena TV que estava em cima do balcão, telejornal matutino dizia que iria fazer sol. Por um instante aquela cena fez com que tudo o que havia acontecido não passasse de um pesadelo. Mas o alarme do meu celular me trouxe de volta a triste realidade em que vivo.
                Por um segundo desejei dormir para sempre. Mas o que adiantaria? Nada mudaria o que aconteceu a minha família. Levantei e fui até uma pequena gaveta na minha escrivaninha. Dentro dela havia um álbum de família, o último que havia restado e que há muito não pegava. Estava velho, um pouco chamuscado e com as pontas amassadas. Nele havia fotos de vários momentos, como o casamento dos meus pais, meu primeiro aniversário, as férias que passamos nos EUA, nossa única viagem juntos. Aquelas fotos apertavam o meu peito, tantos momentos felizes, que agora pareciam ser apenas sonhos distantes do qual eu fui forçado a acordar.  Olha-las me fazia perceber que não era possível fazer o tempo voltar.
    Sentei no chão, encostando minha cabeça na parede. Fiquei ali por alguns minutos, desejando ter morrido junto com eles naquele dia. Ao menos não teria que encarar o fato de que não pude fazer nada. Nesse momento, a lembrança do Chronos veio à minha cabeça como um trovão. Ele havia me feito voltar no tempo, e se eu o usasse para mudar o passado, será que poderia salvar minha família? Procurei minha mochila e lá estava ele, junto com o diário do meu pai. Não sabia o por quê daquilo ter acontecido, nem como poderia evitar o pior. Mas pela primeira vez senti que poderia tentar mudar o meu destino, reescrever o que me fazia infeliz.
                Sentei num canto iluminado e comecei a ler o diário do meu pai. Devia haver alguma coisa importante ali, para ele tê-lo escondido. Poderia ser alguma pista sobre o Chronos ou o motivo para tudo aquilo ter acontecido. A cada página ficava mais ansioso, esperando encontrar algo que me mostrasse com agir. No diário havia fotos das excursões dele. Tudo o que ele descobriu sobre os Atlantis ele havia anotado ali, bem como o que ele encontrou sobre o Chronos.
                Em uma das páginas, algo me chamou a atenção. Nela ele descrevia uma estranha proposta que recebeu de um homem misterioso:
                “Estava no meu escritório quando ele chegou. Sequer havia sido anunciado e entrou como se fosse o dono da casa. Perguntei como ele havia entrado e ele calmamente me respondeu que minha esposa havia aberto a porta para ele, mas ele não quis incomodá-la e por isso foi sozinho até lá. Era um tipo estranho. Alto, cabelos castanhos, olhos negros. Usava um paletó, mas não parecia um executivo. Ele se ofereceu para sentar e desconfiado eu permiti. Então perguntei o que ele queria. Ele respondeu que leu todos os meus livros e ficou fascinado com riqueza de detalhes com que eu descrevia os Atlantis. Ele fez muitos outros elogios e eu pedi para ele ir direto ao ponto. Ele disse que queria financiar minha pesquisa. Segundo ele, a sua empresa estaria interessada nas tecnologias desse povo e a minha pesquisa poderia ajudá-los a obtê-la. Eu deveria trabalhar para eles e reportar tudo o que encontrasse. Perguntei por que estava tão interessado em minhas pesquisas. Ele respondeu que desde a fundação, sua empresa vem procurando pelo Chronos e foram incapazes de encontrá-lo, e que eu era o único com pistas concretas. Quis saber o motivo de eles procurarem por aquele artefato, mas ele desconversou e disse que não era da minha conta, que eu só deveria encontrá-lo. Eu me recusei a fazer o papel de marionete nas mãos dele e ele simplesmente disse para eu pensar melhor, que ele entraria em contato. Ele me procurou outras vezes, mas a resposta se manteve. Na última vez que apareceu ele me ameaçou, dizendo que a minha decisão poderia afetar a minha família.”
                Estas palavras me fizeram gelar. Aquele homem tinha ligação com os assassinos da minha família. Pela descrição do meu pai, eu me lembrava dele. Uma vez ele apareceu enquanto eu brincava com o meu pai no jardim. Pelo jeito que meu pai estava falando com ele, parecia estar bravo. Agora eu sabia o motivo. Ele queria o Chronos. Tudo se encaixava perfeitamente. O escritório do meu pai estava revirado. Provavelmente procuraram a pesquisa ali. Agora eu sabia o que fazer. Mas ainda faltava descobrir como usar o Chronos. Na pesquisa meu pai dizia não ter conseguido ativá-lo, mas eu fui transportado até a pré-história. Sabia que o botão maior ativava o Chronos, mas ainda faltava descobrir se era possível escolher uma data exata para que ele me levasse até lá.
                Dia e noite eu me concentrei em entender como o Chronos funcionava. Li e reli toda pesquisa do meu pai. Nem a faculdade me interessava mais. Tudo que eu queria era mudar o passado e salvar a minha família.
                Sally me ligou várias vezes e me deixou muitos recados. Parecia estar aflita com o meu desaparecimento repentino. Um dia ela foi até meu apartamento. Bateu na porta e eu não atendi.
                -Ray, eu sei que você está ai! Por favor, abra a porta!
    Continuei calado, esperando que ela fosse embora. Ela não foi. Continuou batendo incessantemente, até que as batidas pararam. Ouvi um choro por trás da porta e de repente senti muito remorso. Nos dias que se seguiram ela não me ligou mais.  
    A minha pesquisa aos poucos foi dando resultado. Percebi que os botões menores eram móveis e ficavam diversas posições, cada uma determinava o século, o ano e o dia. Não se podia alterar a hora, portando eu iria aparecer no mesmo horário que eu saísse no presente. Os círculos com os números romanos determinavam essas datas. Cada combinação dos botões e números me levaria a um lugar no passado. Agora só precisava escolher o momento certo para alterar, pois não poderia cometer nenhum erro. Não sabia se poderia alterar o mesmo acontecimento mais de uma vez e não estava disposto a arriscar.
    Na tarde seguinte bateram na porta de novo. Desta vez não era Sally. Eu olhei pelo olho mágico, mas não vi ninguém. Pensei que era engano, mas alguém bateu de novo. Eu abri a porta e levei um soco bem no rosto. Cai no chão atordoado e vi Larry em pé na minha frente.
    -O que pensa que está fazendo?! – Ele perguntou.
    -Eu é que pergunto! Por que fez isso?
    -Isso é por você ter feito a Sally chorar.
    Ele me ajudou a levantar. Pegou algo gelado na minha geladeira e me entregou
    -Toma isso, vai fazer melhorar. – Larry se sentou ao meu lado – E então, o que está acontecendo? Você sumiu. Sally te ligou muitas vezes, até deixou recados, mas você não retornou. Seu porteiro disse que há dias você não sai do seu apartamento e não quis atendê-la. Ela chegou lá chorando. Porque tudo isso? Se você queria se afastar da gente, tudo bem, mas porque tratá-la tão mal?
    -É que... Estão acontecendo algumas coisas. – Respondi sem olhar para ele
    -O que? É algo tão grande que não pode compartilhar com os amigos?
    - Olha não me leve a mal, mas não quero que se envolvam com os meus problemas.
    -Para que você acha que servem os amigos? Se divertir nos finais de semana e fingir que se importa com os outros? Não! Nós ficamos ao lado um do outro nos momentos mais difíceis. Se for pra sofrer, que a gente sofra junto! Vamos lá, compartilhe com gente e tire um pouco desse peso das suas costas.
    Olhei para ele sem jeito. Seus olhos passavam uma sinceridade e uma determinação em ajudar um amigo com problemas. Conhecendo ele há anos, sabia que não ia desistir tão fácil. Diferente da Sally, ele sabia como me fazer contar os maiores segredos se quisesse. Não tive outra opção. Respirei fundo e contei para ele tudo o que havia acontecido. Pensei que ele poderia mandar me internar por insanidade, mas ele me ouviu até o fim. Nunca fui de contar mentiras, nem mesmo as menores. Sempre que na queria falar algo, desconversava, mas nunca mentia. Talvez por isso ele tenha se esforçado para acreditar no que eu havia dito, mesmo que eu pudesse perceber a desconfiança no fundo do olhar dele.
    -E então – Perguntou ele – Já pensou como vai fazer para impedir que sua família morra?
    -Até onde pude investigar, a morte dos meus pais tem relação com o homem com quem meu pai havia conversado. Ele queria a pesquisa do meu pai, então, se eu entregá-la a ele, talvez ele desista de fazer alguma coisa.
    Ele se espantou. Olhou para mim com uma cara de desaprovação.
    -Você não acha que seu pai queria que você protegesse as pesquisas dele? – Disse ele
    -Por causa dela ele morreu! Por causa dela ele passou mais tempo viajando do que com sua família! Essa pesquisa só trouxe infelicidade para as nossas vidas! Eu vou entregá-las para aquele homem e pôr um fim nisso.
    Larry se levantou, parecia impaciente, preocupado com a minha decisão.
    -Você nem conhece esse homem. São sabe o que ele pretende com essas pesquisas. Se o que me disse é verdade, é perigoso deixar isso com estranhos.
    -Eu já me decidi! Não me importa quem é ele, nem o que quer, só quero ter minha vida de volta! Você não sabe como é viver solitário e ser atormentado por lembranças do passado! Não consegue entender como me sinto!! – Disse a ele quando já havia perdido um pouco de minha razão.
    -Tem razão. Nunca vou entender como se sente. Se você acha que isso ao certo a fazer, não posso fazer nada a respeito. – Disse Larry, antes de sair pela porta. Era a primeira vez que brigávamos e eu senti um aperto no peito e um vazio.
    Dias se passaram desde então. Continuei pesquisando e entendendo como o Chronos funcionava. Fiz um primeiro teste com ele, voltado para o meu apartamento no em que viajei para Silkred. Por pouco não encontrei comigo mesmo procurando as chaves, mas felizmente não me vi. O Chronos funcionava, só faltava escolher o dia certo para agir. Quando voltei para o presente mal tive tempo de me recuperar, pois alguém batia na porta. Era Larry. Ele parecia meio sem jeito, mas o convidei para entrar. Ele olhou para mim e disse:
    -Me desculpe. Eu agi feito um idiota. Não tinha o direito de dizer aquilo, eu imagino que seja difícil pra você esquecer daquilo. Por isso vou te ajudar a salvar a sua família. É o mínimo que posso fazer por um amigo.
    Nos abraçamos. Não tiver nenhuma reação. Sempre fomos como irmãos, ele talvez fosse a única pessoa que me entendesse de verdade. Ele olhou pra mim e perguntou:
    -Então, você já sabe como vai fazer para entregar a pesquisa para aquele homem?
    -Vou voltar até o dia que ele foi pela última vez até a casa dos meus pais e esperar até ele sair. Ai eu entrego para ele. O problema é que eu não lembro muito bem do horário, então vou ter que ir bem cedo e esperar o dia inteiro se for preciso.
    -E como sabe que vai funcionar?  -Perguntou curioso
    -Fiz vários testes nos últimos dias. O mecanismo dele é simples. Posso programar o ano, dia, mês e o horário em que quero ir. Depois só apertar o botão e estarei na data programada. Mas infelizmente ele não se desloca no espaço, portanto, temos que ir a Silkred para podermos fazer isso.
    -Acho que vai precisar de uma carona não é? Você dirige muito mal.
    Não podia negar que não gostava muito de dirigir, principalmente na estrada. Por isso aceitei a companhia dele. Peguei minha mochila, a pesquisa do meu pai e por último o Chronos. Já era noite quando entramos no carro e fomos até Silkred, até a casa dos meus pais. Paramos no ponto perto da casa. A rua estava deserta e a única coisa que podíamos ouvir era alguns gatos miando. Esperamos até o amanhecer. Larry ainda dormiu um pouco, mas eu não preguei o olho. Quando amanheceu, descemos do carro. Larry olhou para mim e perguntou:
    -Tem certeza que quer fazer isso?
    -Sim, agora não posso mais volta atrás. – Respondi tirando o Chronos do bolso
    -Sabe que se algo der errado você pode piorar as coisas, não é?  
    -Eu sei, mas não posso ficar pensando nisso agora.
    Programei o Chronos para o dia exato que o homem procurou meu pai pela última vez. Faltava agora apenas apertar o botão.
    -Boa sorte cara. Espero que dê tudo certo – Disse Larry
    -Obrigado.
    Então eu apertei o botão e fui sugado para o passado. Pela primeira vez não desmaiei quando cruzei o tempo-espaço. Olhei e lá estava a casa dos meus pais, exatamente como era antes.
    Ninguém havia acordado ainda, nem mesmo os empregados. Estava tudo muito silencioso. Procurei um local onde pudesse observar a casa e ao mesmo tempo me manter escondido. Algumas horas se passaram e de repente de dentro da casa eu e meu pai saímos da casa. Ver aquela cena era algo estranho, pois eu estava parado há alguns metros de distância, mas tinha a nítida sensação de estar ali, brincando com o meu pai.
    Minutos depois um carro estaciona em frente a casa. Parecia ser bastante caro. De dentro dele saíram dois seguranças e um homem com jeito de executivo. Ele tinha na mão a tatuagem de uma serpente e na boca um charuto que ele entregou para o segurança ao seu lado. Esse era o homem que havia ameaçado minha família. Ele entrou na casa e meu pai saiu de perto de mim, indo em direção ao homem. Eles discutiram e pouco depois e meu pai apontou para a porta, certamente estava mandando ir embora. O homem saiu com um sorriso no rosto, algo muito incomum para alguém que havia acabado de ser expulso de um lugar. Pouco depois ele começou a falar no telefone e eu me apressei em ir até o final da rua, pois ele iria passar por lá e era minha única chance de falar com ele.
    Corri o mais rápido que pude e quando cheguei ao fim da rua pude ver o carro se aproximar. Naquela hora só podia contar com a sorte. Parei em frente ao carro que freou bruscamente. Um dos seguranças saiu berrando:
    -Você está louco! Por acaso quer morrer!
    -Eu quero falar com o seu chefe. – Respondi com o coração batendo forte - Tenho algo que é do interesse dele.
    -Ele não tem nada para falar com você. Vai embora! – Falou o outro saído do carro
    Tentei me aproximar, mas os dois me pegaram pelo braço e tentaram me arrastar para longe. Eu era mais fraco que os dois, então tive que fazer alguma coisa.
    -Ei, você!- Disse olhando para o homem dentro do carro – Está interessado no Chronos não é?
    -Eu te disse pra... – Falou um dos seguranças
    -Espere Gordon. – Disse ele interrompendo o segurança e saindo do carro – O que você sabe sobre o Chronos?
    -Eu posso conseguir a pesquisa do Dr. Ronald Riggs para você.
    -Hum... Interessante. Entre no carro, vamos conversar em um lugar mais discreto.
    Ele me levou para um restaurante do outro lado da cidade, num bairro nobre. O restaurante estava vazio. Sentamos em uma mesa e os dois seguranças ficam em pé na nossa frente.
    -E então, o que você quer comigo? – Perguntou o homem friamente
    -Eu já disse, posso conseguir a pesquisa do Dr. Ronald Riggs para você. Sei que está interessado nela e no Chronos.
    -Como sabe disso tudo? Por acaso trabalha com o Riggs? – Perguntou desconfiado
    -Isso não vem ao caso. Mas eu tenho uma condição para lhe entregar a pesquisa.
    -Condição? Bom, diga qual é a sua condição. Dependendo do que for...
    Sentindo o tom ameaçador, o interrompi e falei:
    -Não se trata de dinheiro. Quero que fique longe da família Riggs. Sei que você os ameaçou e eu quero que os deixe em paz.
    -Só isso? Pode ficar tranquilo garoto. Não tenho interesse por aquela família. Só quero as pesquisas do Riggs e nada mais.
    -Você dá a sua palavra?
    -Por que está tão preocupado com eles?
    -Não interessa. Você quer as pesquisas, e eu quero que os deixe em paz. É só isso que precisa saber.
    -Tudo bem, mas saiba que se estiver me enganando, eu vou...
    -Não se preocupe, eu estou com a pesquisa aqui – Tirei a pesquisa da mochila – Pode conferir se quiser.
    -Não acredito – Ele tentou pegar o diário, mas eu o impedi.
    -E então? Temos um acordo? – Falei tentando não perceber os olhares dos seguranças dele. Por um segundo pensei que me matariam ali mesmo.
    -Sou um homem de palavra. Não tocarei naquela família.
    Ele pegou o diário e o folheou. Seus olhos até brilharam enquanto olhava as páginas amareladas.
    -Após tantos anos, eu finalmente consegui. Garoto sabe o que acaba de fazer? Você está criando um novo mundo.
    -Que seja. – Levantei da mesa - Espero que cumpra com sua promessa.
    Sai do restaurante e fui até um beco deserto. Lá respirei fundo. Estava suando frio. Tive que segurar meus impulsos perto daquele cara. Peguei o Chronos no meu bolso. Por um segundo havia pensado em entregá-lo também, mas desisti quando lembrei que precisava dele para voltar para meu tempo. Apertei o botão e voltei para o presente.
    Quando abri os olhos algo estava diferente. Não sabia o que era, mas as ruas estavam mais desertas. De repente uma forte dor de cabeça tomou conta de mim e uma enorme quantidade de informações entrou em minha mente. Joguei-me no chão me contorcendo de dor. Parecia que algo estava tentando apagar as minhas memórias. Por um segundo pensei que fosse me esquecer de tudo, mas lutei contra a dor e voltei a si. As lembranças estavam intactas, mas essas informações martelavam na minha cabeça como se quisessem me transmitir algo.
    Peguei um táxi e voltei para casa dos meus pais. No caminho percebi que as ruas estavam desertas e pareciam um pouco abandonadas. A fachada das lojas havia mudado e agora traziam um único emblema, como se fossem todos do mesmo dono. O táxi chegou à porta da casa dos meus pais. Algo estava estranho. Mesmo tudo estando intacto, o jardim estava mal cuidado e a fachada com sinais de desgaste, parecia abandonada. Empurrei o portão e entrei. Abri a porta da casa e a sala estava arrumada, algo que não condizia com o estado da área externa. Fui até a cozinha. Pelo horário, minha mãe e Nancy, a nossa empregada, deveriam estar preparando o almoço.
    Ela estava na cozinha, perto do fogão. Sua cara estava abatida e logo a minha cabeça começou a doer e foi invadida por lembranças, meus pais brigando, minha mãe chorava e eu a estava consolando. De repente todos os momentos que passamos antes se tornaram vivas nas minhas lembranças.
    Ela olhou para mim. Seu cabelo castanho claro estava mal cuidado. Os olhos castanho-claros haviam perdido o brilho que possuía antes. Estava abatida, parecendo que há noites não dormia direito. Seu semblante mudou um pouco, parecia feliz por me ver.
    -Meu filho, que bom que chegou! –Disse ela me abraçando – Estava preocupada, você dormiu fora ontem.
    -É, acabei dormindo na casa do Larry.
    -Larry? Ele não está morando em outra cidade?
    Nessa hora me lembrei que ele havia se mudado antes daquilo ter acontecido. Como eu não me mudei para Lorent eu não tinha como estar na casa dele.
    -É, mas ele veio visitar uns parentes.
    -E como ele está?
    -Bem, mas sua vida amorosa é um fiasco.
    -Bom, o almoço vai demorar um pouco. Pode comer alguma coisa antes se não tiver tomado café.
    -Não, obrigado, já tomei café. Mas, onde está o meu pai?
    -Ray, acho melhor você não incomodá-lo. Ele está em um daqueles dias.
    Em um daqueles dias? Como assim? O que estava acontecendo? Perguntei se havia acontecido alguma coisa, e apesar de confusa, ela me respondeu com um ar de preocupação:
    -Ele está enfurnado no escritório e não quer conversar com ninguém. Ontem à noite ele jogou um prato de sopa em Nancy quando ela foi até lá. Espere até ele se acalmar mais, talvez quando ele resolver sair de lá...
    Não deixei que ela terminasse e fui até o escritório. Meu pai sempre foi um homem calmo, alegre. Por que ele agiria daquele jeito? O que havia acontecido? O escritório estava bagunçado. Livros espalhados pelo chão, papéis rasgados, móveis empoeirados e a estátua estava destruída. Havia um rádio tocando alguma música melancólica e que me deixava com um aperto no peito. Atrás da mesa meu pai estava sentado na sua cadeira, de costas para mim, observado um quadro velho na parece.
    -Pai?
    Sem se virar para mim ele continuou olhando para a pintura. Andei devagar em sua direção e o chamei novamente. Ele não respondeu. Algo dentro de mim esperava o pior, mas eu não sabia por quê. Andei mais rápido e o vi sentado na cadeira, com seus olhos verdes fixados num retrato na parede. Estava magro, abatido e seus cabelos castanhos já estavam ficando grisalhos.
    -Pai, o senhor está bem? – Perguntei assustado.
    Antes que pudesse esperar alguma resposta um dor insuportável tomou a minha cabeça e as lembranças do que aconteceu até ali vieram à tona. Quando dor passou me joguei de joelhos no chão. Finalmente tinha entendido o que aconteceu. Tudo estava tão claro na minha mente. O motivo pelo qual meu pai estava naquela situação. Não só o meu pai, mas a cidade, a casa. Tudo estava diferente. Tudo havia mudado. E era tudo culpa minha. Culpa da minha tolice em querer mudar aquilo que não podia ser mudado.

    Continua...
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